28 de março de 2024
Marighella: filme pode cair no gosto dos bolsonaristas

Marighella: filme pode cair no gosto dos bolsonaristas

Marighella: filme pode cair no gosto dos bolsonaristas

Imagem: Divulgação

Os bolsonaristas resilientes – aqueles que apesar de tudo, ainda seguem seu líder – receberam a estreia do filme ‘Marighella’ como o diabo diante da cruz. Se dependesse deles, a história contada no cinema por Wagner Moura seria sumamente censurada. No entanto, por incrível que pareça, talvez se divertissem com o filme que, aliás, já pode ser visto pela televisão, na Globoplay. 

Em suas entrevistas, Wagner Moura ressalta que não canonizou aquele que foi um dos mais famosos guerrilheiros urbanos durante a ditadura militar. E não canonizou, mesmo. Ninguém pode considerar um santo alguém que optou pela violência para combater a violência e sonhou em implantar aqui um regime igual ao cubano (chegou a ser chamado por alguns admiradores de o Che Guevara brasileiro).

Em uma de suas falas, o ex-deputado comunista diz ter esperança de a população aderir à luta armada como ocorreu com Fidel Castro. 

Mas não é por isso que fanáticos seguidores do capitão poderiam gostar da película: seguramente apreciariam os métodos e a ação na história do delegado Lucio (uma versão ficcional de Sérgio Paranhos Fleury).

Financiados pelo consulado americano e liderados por ele, agentes do Dops perseguem Marighella incansavelmente até sua morte, numa cilada preparada na Alameda Casabranca, em São Paulo, em 1974. Para chegar até o fundador da Aliança Libertadora Nacional (ALN), não poupam ações fora da lei, tortura e morte de quem surgisse pela frente. 

As cenas de tortura com os padres dominicanos, por exemplo, são fortes; mas para aqueles que seguem um defensor do famoso torturador Brilhante Ulstra, pode ser que a violência tenha uma estética especial. 

Afinal, os pouco mais de 20% que ainda se mantém fieis a Bolsonaro não parecem estar com ele por causa de suas propostas políticas. Em sua maioria, passam a impressão de ver nele a confirmação de seus próprios desvios – como disse um amigo, Bolsonaro não é admirado por suas qualidades (se as houvesse), mas por seus defeitos. 

Ivan Lago, professor e doutor em Sociologia Política, lembra muito bem em um artigo em seu blog que o atual presidente da República deu voz a esse tipo de cidadão. 

“Ele se sente representado pelo presidente que ofende as mulheres, os homossexuais, os índios, os nordestinos”. 

“Ele sente prazer profundo – prossegue em outro trecho – quando seu governante faz acusações moralistas contra desafetos, e quando prega a morte de ‘bandidos’ e a destruição de todos os opositores”. 

Wagner Moura foi bem realista em seu “Marighella”: o bandido e o mocinho podem estar de um lado ou de outro, de acordo com a preferência da plateia, por mais cruel que essa preferência seja. 

Pela ótica dos bolsonaristas radicais, o bem vence o mal, pois o delegado Lucio consegue encurralar e matar o seu inimigo. 

Não duvido dos aplausos no final.

https://prensa.li/jornalistasonline/marighella-filme-pode-cair-no-gosto-dos-bolsonaristas/

Escrito por
José Luiz Teixeira
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