29 de março de 2024
Efeito Faustão na Band

Efeito Faustão na Band

Efeito Faustão na Band

Imagem: Divulgação/Band

Os primeiros minutos de 2022 trouxeram muita agitação nos bastidores da nada mole vida televisiva brasileira. Maltratada pela pandemia, uma legião de telespectadores trancafiada em casa viu 2021 ir embora sem deixar saudades. 

Mal os ponteiros do relógio se juntaram dando meia-noite, no limiar do novo ano, o público afundou o dedo no controle remoto em busca do tão sonhado entretenimento.  

Na Globo encontrou mais do mesmo, uma letargia pandêmica de “Show da Virada” (reprise do ano passado) e show de fogos da orla de Copacabana, este ano quase sem ruídos e igualmente sem animação.  

As praias fechadas, todos os acessos bloqueados, nenhum show musical interessante à vista, tudo isso acentuou o tom fúnebre da virada nacional e o bicho preguiça dos apresentadores em tediosas narrativas sublinhava o que se via no vídeo.  

Mas no país da Band, rolou um bocado de agitação: Fausto Silva, do alto de seus 71 anos de idade, atropela o calendário, cancela o programa de RR Soares, manda a resenha religiosa pro beleléu e traz um inusitado “avant premiere” do que fará em sua nova casa. 

O homem do “quem sabe faz ao vivo”, dos “reclames do plimplim e do “Ô loko meu!” vira a casaca e migra da emissora dos Marinho para a TV da família brasileira, sua verdadeira origem, depois de 30 e poucos anos de expediente dominical. E é nos primeiros frames de 2022 que a família Silva estoura a fita, ofusca os fogos de artifício da virada e atinge, em cheio, a preferência da galera.  

Com o mesmo tesão irreverente com que fazia o “Perdidos na Noite”, Faustão invade a sua televisão, justamente com as “videocassetadas que ele importa do plimplim – com trilha e tudo, deleta a palavra “vídeo” e insere com ballet e circunstância em sua nova empreitada. 

Pela primeira vez na vida, o palco é fatiado e Fausto Silva recebe dois partners: Anne Lottermann, sequestrada do telejornalismo da Globo e o próprio filho, João Guilherme Silva, fazendo seu test drive de estreia ao lado do pai com 17 anos de idade.  

João Guilherme Silva e Anne Lottermann | Imagem: Divulgação/Band

Audiências no Ringue 

O que antes mal chegava a dois pontos de audiência com a Novela Nazaré e o Show da Fé, de RR soares, cravou seis pontos consolidados no IBOPE da Band. E, na mais pura estratégia digital, o programa virou trend top em todas as plataformas da Internet antes mesmo da estreia.  

Não se trata de gostar ou não gostar do formato, do jeitão, da voz, dos infaustos trocadilhos, das performáticas bailarinas, da trupe do entorno e tudo mais, mas a virada de Fasto Silva na Band deu uma salutar sacudida em todas as grades de todos os canais. A dança dos números serviu para mostrar o quanto a programação nacional estava engessada. 

A Band deu um passo arrojado e não mediu esforços: Reformou sua sede, construiu novo estúdio, empreendeu e colocou à disposição do irreverente filho pródigo o melhor auditório do Brasil, tanto em tecnologia quanto em conforto para mais de 500 pessoas. 

São painéis de LED gigantescos, uma big estrutura cenográfica, áudio de primeiro mundo e equipamentos sofisticados de ponta, em um investimento de peso. Além disso, não mediu esforços e deu carta branca para que o apresentador trouxesse a equipe que bem quisesse para se juntar à da casa. Gente que está com ele há mais de 30 anos e gente nova, numa empreitada de 300 empregos diretos entre CNPJ e CLT. 

Quem sabe faz “gravado” 

Só quem viveu as entranhas do Domingão ao vivo, que já teve 11 horas de duração, para entender este marco histórico. E até perdoar algumas críticas por conta disso.  

Falhas de percurso que precisam ser ajustadas para não se tornarem históricas. Uma delas são os erros de continuidade, como o do “bigode” do filho de Fausto que aparece e some ao longo do primeiro programa telegrafando que ele foi gravado em dias diferentes. A edição deixou passar, os internautas atentos não perdoam. E dá-lhe meme, que vai alavancar mais audiência. Simples assim.  

Outra crítica mordaz é o fato de o programa ser todo 100% pré-gravado. A morte de Elza Soares, por exemplo, passou em brancas nuvens, sequer mereceu um link, depoimento, menção, ou lettering especial como homenagem. 

Mas são tempos cascudos de debut e as primeiras semanas marcam o ritmo alucinante com que tudo aconteceu.  

Audiência turbinada 

Mesmo com todos os percalços, a estreia foi marcada pela vice-liderança absoluta do canal no horário, com uma média invejável de 8,3 pontos e picos de 9.9. O efeito cascata foi sentido durante toda semana.  

Mesmo voltando para o terceiro ou quarto lugar, depois do primeiro dia, o Faustão na Band segue em alta. A emissora quase quintuplicou a audiência do horário e triplicou os demais programas em volta. 

Não necessariamente que esteja agradando 100% em seu conteúdo, mas está servindo como opção inegável às fórmulas prontas. 

Sinal vermelho na concorrência 

O sinal vermelho acendeu na concorrência que correu para mexer nos produtos em linha. O efeito cascata foi sentido durante toda a semana.

Acendeu a luz vermelha no Jornal Nacional. Mion invade o sábado da Globo (quem diria) com sua “Mion-Zéira”: o vocabulário que o imortalizou nos Piores Clips do Mundo” da MTV. Luciano Huck desliza para domingo. A programação corre com nova temporada de “The Masked Singer Brasil”.

“Puxa, estica, empurra e vai”.  

Tiago Leifert sai de cena. Vai viver um tempo sabático, assim como Glória Maria. Que, na volta, foi parar no Globo Repórter com Sandra (ex Hoje) Annemberg. 

A programação mexe nos matinais: experimenta Patrícia Poeta e Manoel Soares no lugar de Fátima Bernardes, que passa mais tempo de folga do que no ar. Desencontros de verão? 

Empurra os telejornais daqui, aumenta seu espaço ali, as mudanças continuam acontecendo a céu aberto. 

E lá vem o BBB, com o Tadeu Fantástico Schmidtt, aquele dos cavalinhos, numa galopada insana que por sinal deu a largada no mesmo dia, 17 de janeiro do ano da graça de 2022. 

Imagina tudo isso na cabeça do telespectador. 

Para reforçar sua preferência além de viralizar as chamadas nas redes sociais, após oficializar a contratação de Fausto Silva, a Band também chamou Cadu Alves, que era a voz responsável pelas chamadas de programação da Globo há mais de dez anos. Ele agora cumpre expediente na emissora do Morumbi. 

E nesse ecossistema, dezenas de patrocinadores deram bye-bye ao plimplim e resolveram migrar para a Band, acompanhando o projeto e seu apresentador que saiu de pastinha em punho na plena captura de dimdim. Sua proposta não era simplesmente jogar mais um programa dominical no ar, mas uma nova programação.

O patrocinador entendeu isso. E resolveu pagar para ver. 

Foi uma jogada ousada. Talvez uma das mais arrojadas da história recente da TV Brasileira. E empurrado pelo frenesi da divulgação paralela, o programa virou trend top em todas as plataformas da Internet antes mesmo da estreia.  

Tudo certo até despencar sobre a cabeça da produção um dos maiores perrengues da temporada: o apresentador foi diagnosticado positivo para o Covid, em dois momentos. Não só ele, mas sua partner Anne Lotterman, mais 12 bailarinas e alguns integrantes da produção.Graças aos céus, todos sem sintomas graves, tri-vacinados, que estavam seguindo todos os protocolos.  

Foi então que o Deus dos impossíveis televisivos deu uma forcinha e na terceira tentativa o apresentador bateu negativo para o Covid e voltou à carga. Ele só tinha programa inédito para mais um dia. Mesmo assim , a equipe tem que encarar uma jornada de dez horas no ar por semana. Programação diária é um dragão de boca aberta comendo produto e a alma de quem produz. 

É uma jornada cavalar com pautas infindáveis, centenas de convidados famosos e uma legião de colaboradores, que graças aos céus, fazem fila para participar. 

O que salvou o projeto mais uma vez foi a experiência: “Quem sabe também grava ao vivo” e faz gavetas de vários programas para momentos como este. Ganha–se o tempo necessário para limpar a prateleira e voltar com tudo.   

Desafio arrojado 

De acordo José Bonifácio Sobrinho, o Boni, que inventou o Domingão: 

“A televisão brasileira vai experimentar uma nova revolução”, disse o diretor de TV, empresário e amigo de Fausto Silva, para o site da nova casa do apresentador. 

Resta saber se, ao longo do tempo, a Band manterá seu fôlego e a velocidade atual.  

E se no amadurecimento natural conseguirá introduzir novos quadros e ideias adaptadas ao DNA da Band. E não apenas uma transfusão do Domingão em sua televisão. 

“-Ô loco, meu!” 

https://prensa.li/jornalistasonline/efeito-faustao-na-band/

Escrito por
Carlos Kober
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