29 de março de 2024
How to be a dictator

How to be a dictator

A voz anasalada do ex-presidente Donald Trump, antecipando fraudes nos votos por correio, tradição das eleições americanas, até hoje ecoa nos nossos ouvidos. “Fraud, fraud”, repetia à exaustão. Derrotado por Joe Biden nas urnas, estimulou a invasão ao Capitólio. A desastrada operação provocou a morte de manifestantes e seguranças. Na reunião de Donald Jr. e Eric Trump, preparatória para o ataque, o Brasil esteve representado. O deputado Eduardo Bolsonaro, que queria ser embaixador nos Estados Unidos, acompanhou o encontro. O mesmo Eduardo que em julho de 2018 gravou vídeo com ameaça ao STF. Ele disse: “cara, se você quiser fechar o STF sabe o que você faz? Você não manda nem jeep. Manda um soldado e um cabo. Não é querer desmerecer o soldado e o cabo, né?”.

Logo que assumiu o cargo, o presidente Bolsonaro divulgou, também por vídeo, a fábula em que se comparava a um leão, acossado por hienas – uma delas, o STF. Obsessivo na cruzada contra a Suprema Corte, na primeira semana de agosto de 2021, o presidente não governa, está preocupado apenas em desmoralizar as instituições democráticas. Irritado com a rejeição, na Câmara, do voto impresso, seu mantra, o presidente fulanizou os ataques. O alvo foi o presidente do TSE, ministro Luiz Roberto Barroso, também do STF. Acusou-o de defender a redução da maioridade para estupro de vulnerável. “Beira à pedofilia o que ele defende”, disse o presidente da República. Chamou-o de “filho da p…” em encontro com apoiadores em Joinville, Santa Catarina.

Está clara a tática. Desmoralizar o poder maior do país, guardião da Constituição. Diante das agressões, o presidente do STF, Luiz Fux, cancelou reunião que tinha convocado entre chefes dos três poderes. Subiu o tom, e disse que o pressuposto do diálogo é o respeito mútuo entre instituições e seus integrantes. O país assiste, estarrecido, à utilização irresponsável de uma “não-questão” – o voto impresso, pela maior autoridade da República. De um país acossado pela pandemia, desemprego de 14 milhões de pessoas, 560 mil mortes e apenas 20 por cento da população vacinada. Anotem aí. Somos presididos por um capitão que no Exército, antes de ser expulso, se posicionava contra a instituição que o abrigava. Não tem apreço por vidas perdidas, instituições democráticas, muito menos à liturgia do cargo. Instalou no país um populismo de líder salvador. Amparado por furiosa rede social, alimentada pelo “gabinete do ódio”, supostamente sob o comando de um dos filhos e principal investigado no inquérito das fakenews, do “maldito” STF. Agora papai lhe faz companhia no processo.

Nos seus arreganhos ditatoriais, Bolsonaro empregou 6 mil militares e permitiu acumulação de soldo do Exército com salários do Executivo que extrapolam o teto; se rendeu ao Centrão, que criticara na campanha eleitoral; liberou a compra de armas e reforçou, assim, a milícia e apoiadores; se associa às polícias militares e civis nos Estados; aparelhou a Procuradoria Geral da República, instalando lá o dócil Augusto Aras e pôs um aliado na Polícia Federal, delegado Paulo Maiurino. Tem o apoio de corporações religiosas neo-pentecostais. Esse aparato gigantesco de apoios, indica um quadro bem diferente dos Estados Unidos da era Trump.

Naquele momento, o Alto Comando das Forças Armadas, na figura do general Mark Milley, não embarcou no golpismo do chefe. Será que a criatura supera o criador no Cone Sul? Entidades de classe e empresários começam a reagir aos arroubos do presidente. Até quando ele manterá a sociedade brasileira em sobressalto. Não é loucura, o homem tem método. Quem pode detê-lo? #STF #gabinetedoódio #quempodedetê-lo

Escrito por
Laerte Rimoli
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